A cirurgia para correção de varicocele pode permitir uso de técnicas de reprodução assistidas menos invasivas
A incidência da varicocele na população geral é de até 22,6%, atingindo até 41% dos homens com infertilidade primária (nunca teve filho) e 81% dos homens com infertilidade secundária (com filho prévio). A varicocele, além de prejudicar os parâmetros seminais, reduz as taxas tanto de gravidez natural e quanto técnicas de reprodução assistida. A cirurgia de correção da varicocele é uma orientação da Associação Americana de Urologia e da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva a fim de melhorar os parâmetros seminais e taxas de gravidez.
Este estudo teve por objetivo mensurar o grau de melhora espermática pós cirurgia de correção da varicocele e quantos desses casais puderma usufruir de técnicas de reprodução assistida menos invasivas. Foram avaliados retrospectivamente 373 homens com correção de varicocele, sendo 46,6% deles com varicocelectomia bilateral. A contagem total de espermatozoides por mL de sêmen foi avaliada antes e após o reparo da varicocele. Anteriormente, 45% dos homens tinham contagem total de espermatozoides maior que 9 milhões de espermatozoides por mL, o que os permitia tentativa de gravidez em casa. Cerca de 17,7% tinham contagem entre 5 e 9 milhões, sendo indicada inseminação intra-uterina, e 37,3% apresentavam menos de 5 milhões de espermatozoides por mL e eram indicados para fertilização in vitro. Depois da correção da varicocele, 59,2% dos homens passaram a ter indicação de gravidez em casa, 15,3% deles eram candidatos à inseminação intra-uterina e apenas 25,5% ainda precisavam se submeter à fertilização in vitro.
Cerca de 57,6% dos homens que deveriam fazer inseminação intra-uterina passaram a ter qualidade seminal compatível com gravidez em casa. Além disso, 53,2% dos homens que inicialmente tinham indicação para fertilização in vitro, passaram a poder realizar tentativas de gravidez via inseminação intra-uterina ou mesmo gravidez em casa. No geral, a contagem total de espermatozoides por mL passou de 18,22 milhões para 46,72 milhões, sendo que a uma melhora muito significativa foi observada em homens com baixa taxa de espermatozoides. Nesse grupo, a contagem total subiu de 2,32 milhões por mL para 15,97 milhões. Nos homens com contagem intermediária, a contagem aumentou de 6,96 milhões por mL para 24,29 milhões.
No grupo dos homens com sêmen de melhor qualidade, a contagem média subiu de 36,26 milhões para 81,80 milhões de espermatozoides por mL após o reparo da varicocele. Apenas em alguns casos houve uma piora na qualidade seminal após a varicocelectomia. Para determinar se esta piora estava associada à correção da varicocele em si, ou era uma simples variação fisiológica, foram avaliados homens com e sem a correção da varicocele. Essa comparação mostrou que houve uma melhora da qualidade seminal muito superior no grupo de homens que realizou a correção comparado àqueles que não realizaram, indicando que a varicocelectomia não resulta em risco significativo de piora da qualidade seminal.
Esses achados permitem concluir que o reparo da varicocele tem um papel importante no tratamento da infertilidade masculina, mesmo para aqueles homens com baixa qualidade seminal, pois a varicocelectomia reduz as chances de utilizar técnicas de reprodução assistida mais invasivas, como inseminação intra uterina e especialmente a fertilização in vitro.