Reposição hormonal masculina e andropausa
Portanto, como a última frase bem diz, dificilmente teremos mecanismos que permitam a diminuição desta população no mercado de trabalho e portanto será um grupo etário igualmente exigido e cobrado e além disso muito importante para o país.
O fato é que no grupo masculino, teremos o efeito indesejável da natureza sobre o passar dos anos. Após os 40 anos de idade, é normal haver um declínio lento e gradual na produção de testosterona. Acredita-se que a queda seja de 1% ao ano e quando acompanhada de desconforto produz um quadro clínico de desinteresse geral, queda da libido, disfunção erétil, fraqueza, tristeza, insônia e mau-humor, que se confundem com o processo natural de envelhecimento, mas que na verdade é aquilo que chamamos de DAEM, ou distúrbio androgênico associado ao envelhecimento, conhecido antes como andropausa.
Existem inúmeros questionários para se avaliar se o individuo tem o diagnóstico de DAEM, como o exemplo abaixo (Androgen Deficiency in Aging Males questionnaire):
- Você tem diminuição da libido?
- Você tem perda de energia?
- Você tem perda do vigor e/ou da paciência?
- Você perdeu altura, ficou mais baixo?
- Você notou alguma perda do “prazer pela vida”?
- Você tem estado abatido e/ou irritável?
- Suas ereções estão menos firmes?
- Você notou alguma recente queda na sua habilidade esportiva?
- Você tem ficado com sono facilmente após o jantar?
- Sua capacidade para o trabalho decaiu?
Na prática o diagnóstico é simples, o homem apresenta sintomas de diminuição de performance associados a níveis reduzidos de testosterona total e livre no sangue. A testosterona livre também deve ser sempre dosada, pois há situações onde a total está normal mas a livre reduzida. O exame mais moderno e fidedigno é a testosterona livre salivar, realizada em poucos laboratórios no país. Nestes casos a reposição hormonal pode ser indicada, caso não exista nenhum fator clinico ou nos exames de sangue que proibam a reposição. Muito importante é ter acompanhamento muito próximo de um urologista, com exames periódicos e caso o indivíduo apresente alguma complicação do tratamento possa ser tratado.
Quem é candidato a reposição hormonal?
Quem não é candidato a reposição hormonal?
Quais as principais vias de reposição hormonal?
Alguns pacientes se queixam de menor durabilidade que o informado na bula, ou seja, sentem os efeitos da medicação diminuirem antes dos 90 dias. Em pacientes obesos os efeitos são muito aquém do prometido em bula e na pratica estes pacientes acabam migrando para o uso de injetáveis de curta duração ou gel.
4- DHEA – 50mg por via oral – eleva a testosterona mas com pequena variação do basal. Os pacientes geralmente associam com o uso de algum dos métodos acima.
O futuro: Implantes sub-cutâneos absorvíveis
São a mais nova opção no mercado mundial e de melhor biodisponibilidade absortiva – não fazem pico de testosterona, podem durar de 6 a 9 meses, dependendo da dose implantada, não demandam injeções trimestrais, possuem custo mais elevado, mas vêm ganhando espaço rapidamente no mundo inteiro. Antes precisavam ser retirados, hoje já temos em São Paulo implantes absorvíveis. Na Europa e Estados Unidos já são bastante utilizados. No Brasil ainda possuem mercado restrito, poucos profissionais dominam a tecnologia e as dosagens necessárias caso a caso. No futuro próximo provavelmente substituirão os injetáveis em uma grande parcela dos homens. Possuem taxa de liberação lenta de testosterona e portanto são mais fisiológicos. São mais caros.
Papel da testosterona na ereção
Papel da testosterona no colesterol e suas frações, na massa muscular e massa óssea
A deficiência de testosterona pode contribuir para o desenvolvimento da síndrome metabólica. Por sua vez, os estados de hiperinsulinemia e obesidade conduzem a uma redução da produção de testosterona nos testículos. Portanto cria-se um círculo vicioso. O indivíduo tem seus níveis de testosterona reduzidos, com isso menos massa muscular e disposição física para exercícios, ganha peso, piora seus niveis de glicemia e colesterol e com maior peso diminui ainda mais niveis de testosterona circulantes. Muito comum são os casos onde iniciamos a reposição hormonal em homens com sobrepeso, utilizando medicamentos para controle de glicemia, colesterol e triglicérides, desanimados para prática de atividade fisica, mau humorados e com distúrbios do sono. A reposição hormonal nestes casos, quando indicada de maneira segura e bem acompanhada, pode ajudar de sobremaneira a reversão deste quadro, cada dia mais comum em nossa população. Notamos melhora dos níveis de colesterol, diminuição peso, melhora massa muscular, diminuição da massa gorda, melhora do sono e do humor consequentemente.
Fonte: J Urol. 2005 Sep;174 (3):827-34 Hypogonadism and metabolic syndrome: implications for testosterone therapy. Makhsida N, Shah J, Yan G, Fisch H, Shabsigh R. Department of Urology, Columbia University, New York, New York, USA.
Reposição hormonal e câncer de próstata – derrubemos os mitos:
Is Testosterone Treatment Good for the Prostate? Study of Safety during Long-Term Treatment. J Sex Med. 2012 Jun 6 Feneley MR, Carruthers M. – Institute of Urology and Nephrology
Em trabalho recente no Journal of Sexual Medicine, onde 1.365 homens foram acompanhados durante mais de 20 anos em vigência de reposição hormonal, seguidos com exames a cada 6 meses, a incidência de câncer de prostata foi exatamente equivalente aos números da população geral, sem reposição hormonal. Além disso, nestes casos o dignóstico foi sempre precoce, visto que as consultas eram realizadas sempre de 6 em 6 meses. A reposição hormonal, quando adequadamente indicada e seguida, é segura e não aumenta as chances de câncer de próstata.
Necessidade de mudança de estilo de vida!
Lembrar que a reposição hormonal não causa câncer de próstata, mas pode estimular o desenvolvimento de um câncer já existente. Deve ficar claro para os pacientes que tão importante quanto a reposição hormonal e seus cuidados, deve ser a mudança de hábitos de vida com especial atenção para a alimentação saudável, prática de exercícios físicos, abolir fumo, álcool, sal e alimentos gordurosos, fazer uso de suplementos de vitaminas, minerais e anti-oxidantes. Recomendamos uso de Omega-3, vitaminas D, E e em alguns casos complexos vitamínicos mais completos.
Mensagens finais importantes baseadas nos últimos guidelines de 2015 e recentes trials de 2016
- A- A reposição hormonal quando indicada corretamente pode vir associada a inúmeros benefícios para a vida do homem, mas deve ser acompanhada de perto por um profissional habilitado em lidar com o eixo hormonal masculino e suas repercussões após o início da reposição. Os riscos e benefícios sempre devem ser discutidos com detalhe.
- B-Há um exagero e abuso atual no contexto da reposição hormonal masculina, travestido do termo modulação hormonal: ou seja, homens sem hipogonadismo, sem queda nos níveis de testosterona e sem sintomas vem sendo orientados a iniciar a reposição hormonal com fins unicamente estéticos ou para performance esportiva. Não praticamos modulação hormonal na clínica.
- C- Ainda hoje há controvérsia com relação ao aumento dos riscos cardiovasculares da reposição hormonal e não há mais dúvida com relação ao não aumento do risco de câncer de próstata. Estudos recentes sugerem até benefício clinico nos sintomas miccionais e nos sintomas da obstrução infra-vesical.
- D- A reposição hormonal quando indicada corretamente parece estar associada a melhora nos parâmetros cognitivos ( memória, atenção, humor e concentração) , sono, distúrbios urinários como urgência miccional e frequência urinária noturna.
- E- A reposição hormonal com testosterona e seus derivados está sob vigilância direta e rigorosa do FDA nos EUA, devido ao crescimento exponencial deste mercado nos últimos anos e forte papel da indústria farmacêutica por trás.
Fontes: Highlights AUA 2015 / EAU 2015
Dr. Conrado Alvarenga
Membro da Divisão de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP